terça-feira, 1 de março de 2011

Águas por aqui e por lá

28 de fevereiro de 2011: os protestos na Líbia e em outros países do Oriente Médio e norte da África quase que desaparecem dos noticiários da tv, literalmente inundados por imagens dramáticas da capital paulista absolutamente parada pela intensidade das chuvas. Desesperada! O Rio Tietê, convertido em vilão da história, cuspia suas águas fétidas pelas vias marginais e os telespectadores lamentavam a situação dos pobres cidadãos surpreendidos ainda em fevereiro pelas águas de março, ao mesmo tempo em que agradeciam aos céus por estarem secos e seguros diante da televisão.
Dias antes, gravava entrevistas para um documentário no município de Jaguaré, no Espírito Santo, quando o tempo fechou. Céu forrado de pesadas nuvens negras, raios caindo bem perto da escola onde colhíamos um depoimento: "ih, lá vem  chuva. E vai ser daquelas!". Foi o comentário que deixei escapar num tom francamente preocupado, reação reflexa de minha experiência urbana de rios canalizados, bueiros entupidos, chão coberto de asfalto, geografia transtornada. "Graças a Deus!", diziam os companheiros agricultores olhando para o mesmo céu. Não caía uma gota, tinha tempo. Terra seca, sol de rachar o coco. A chuva veio, encheu o ar daquele cheiro gostoso de terra molhada, correu para os rios. Caipira da cidade, me senti uma tola com medo da chuva.
Na volta para São Paulo, chegando por Congonhas, foi entrar no taxi e encarar os primeiros vinte minutos de trânsito, para ouvir um trovãozão distante, ameaçador. Tola ou não, quando me dei conta já resmungava:  ah não, chuva não!

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